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Foto do escritorNara Guichon

O legado de Chico Mendes e a alarmante situação dos ativistas ambientais no Brasil


Em 15 de dezembro deste ano a comunidade ambiental celebrou o dia de Chico Mendes. Se estivesse vivo, o líder seringueiro completaria 77 anos. Essa data deve servir para lembrarmos de um fato assustador: o Brasil é o quarto país que mais mata ativistas ambientais no mundo.


Chico Mendes foi um dos pioneiros no trabalho de conscientização em prol das florestas e das comunidades nativas, então exploradas pelo sistema de cultivo de seringueiras. Seu trabalho começou ainda nos anos 70, época em que a extração de borracha da região amazônica gerou uma explosão de pobreza sem precedentes. Chico Mendes foi visionário ao compreender que o equilíbrio social só é possível quando existe também equilíbrio ambiental.


Suas ações ganharam repercussão em todo o país e também em outras regiões do mundo. Uma de suas táticas de protesto era conhecida como "empate" — manifestações pacíficas nas quais os seringueiros protegiam as árvores com seus próprios corpos. Em 22 de dezembro de 1988, aos 44 anos, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no quintal de sua casa na cidade de Xapuri, no Acre. Sua morte se tornou símbolo de resistência e seu trabalho ainda hoje inspira ativistas em ONGs em todo o globo.


Chico Mendes. Foto: Brasil Escola/UOL.


O quarto país que mais mata ativistas no mundo


Segundo dados da ONG Global Witness, em 2020 foram contabilizadas 227 mortes de protetores das causas ambientais em todo o planeta, sendo 20 delas no Brasil. A maioria dos atos violentos ocorreu na região amazônica.


Essa triste e vergonhosa realidade contrasta com o fato de o Brasil possuir a maior biodiversidade do planeta. Um tesouro grandioso que estamos gerindo de maneira irresponsável e descabida.


A morte de um ativista é, além de uma perda humana irreparável, um golpe violento contra ideias que transformam o mundo para melhor. Ativistas não são responsáveis “apenas” por protegerem as florestas, como muitos pensam, mas por cuidarem do elo entre as comunidades e seus biomas. Ao redor de um ativista orbitam famílias inteiras, vilas, cooperativas e projetos que visam a integração entre pessoas e recursos naturais de maneira justa e igualitária.


Um ativista ambiental não protege nada para si, mas doa seu tempo e seu trabalho para o bem de todos.



Área de garimpo ilegal no coração da Amazônia. Foto: Unsplash.



Riqueza e destruição


Quando ouvimos que “o homem” está destruindo o planeta devemos entender que por homem queremos dizer “homem branco”. Olhe ao redor e veja: as principais companhias que devastam nossos biomas são fruto da mentalidade branca, que se considera acima das demais. O homem branco acredita que precisa levar o progresso aos lugares que ele considera atrasados, mas o verdadeiro atraso civilizatório é acreditar que não exista sabedoria para além da cultura branca.


O campo, a floresta, a mata e suas comunidades originais são fontes de grandes conhecimentos. O reino dos animais, das plantas, dos mares e de todos os seres vivos que já estavam aqui muito antes de nós são a verdadeira representação de um pensamento evoluído. Essas são verdades que o homem branco não consegue enxergar. Sua ganância o impede de ver que o verdadeiro valor do mundo está na preservação da vida em toda a sua exuberância.


O que estamos presenciando no Brasil, com um aumento recorde de invasões a áreas protegidas e ataque aos povos originais, é fruto de uma mentalidade capitalista suja e deturpada. A fala do atual ministro do meio ambiente na COP26, dizendo que “onde há muita floresta, há pobreza”, revela o mais puro atraso do capitalismo moderno. Países como Alemanha, França, Islândia e Costa Rica são exemplos de que preservar florestas é sinônimo de prosperidade.


A destruição de uma floresta para plantação de soja, criação de pasto ou garimpo de ouro não é geração de riqueza verdadeira. O capital obtido com essas ações não produz nenhuma prosperidade real, apenas o enriquecimento de poucos. A riqueza que uma floresta representa, com sua fauna, flora, ar puro, alimento e equilíbrio ambiental não pode ser medida em ouro, dinheiro ou em qualquer outro bem tocável.


Água limpa, chuvas regulares, alimento e igualdade social não são coisas nas quais possamos colocar uma etiqueta de preço. Como bem nos lembra Aílton Krenak, a vida, em si, não tem preço. Viver não pode e não deve ser uma mercadoria.


A mentalidade capitalista nos vende uma ideia errada de progresso. Um país próspero não é aquele que tem mais terras garimpáveis, nem mais pastos e gado, mas é sim aquele que garante aos cidadãos o bem inestimável de uma vida justa, equilibrada e sadia.


A degradação ambiental é o primeiro sintoma de uma sociedade doente e as feridas abertas em nossas florestas caminha para um ponto sem retorno.



Criação de gado em áreas de floresta nativa. Foto: The Brazilian Report.


Sem caminho de volta


De acordo com uma pesquisa da ONG MapBiomas, a atual má gestão ambiental no Brasil está transformando boa parte da Amazônia e do Cerrado Central em savana desértica.


Estamos atingindo o que os cientistas e ambientalistas chamam de “ponto sem volta”. A partir daqui, mesmo que essas áreas sejam reflorestadas em ritmo acelerado, não será mais possível recuperar a vivacidade dos solos.


Os rios aéreos, correntes de umidade que vêm da Amazônia para as demais regiões do país, já estão sendo comprometidos. Tempestades de areia como as ocorridas esse ano em diversas cidades do Brasil se tornarão um fenômeno cada vez mais comum. Sem biomas não há umidade, sem umidade não há chuvas, sem chuvas não há vida.


Gostaria de deixar aqui uma reflexão: quanto vale o ar puro da manhã? Qual o preço da água de uma nascente? Como podemos comprar a biodiversidade?


A verdade é que não podemos precificar o que há de mais valioso no mundo: a vida.


A causa ambiental não é exclusivamente assunto de ONGs e ativistas. Todos devemos ser ativistas, todos devemos participar, do nosso modo e com os recursos que temos, para a construção de um mundo mais justo.


Essas são questões que não serão resolvidas pelo capitalismo. O caminho aberto pela ganância e pelo consumo desenfreado não nos levará a outro lugar senão ao fim da espécie humana tal como conhecemos.



 



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