Um texto de Nara Guichon
A economia vigente nos diz que precisamos crescer. Seu primeiro mandamento é crescer, crescer sempre.
Companhias precisam crescer, vender, bater recordes. O setor agrícola precisa colher, mais e mais, atingindo mais metas que no ano anterior. O PIB tem que ser maior, pessoas têm que consumir mais, querer mais, ganhar mais, fazer mais, tudo cada vez mais.
A Terra e a natureza (relembrando que o homem é um ser que é parte desta), nos mostra que tudo cresce, atinge seu apogeu e para, ou transforma-se. O planeta gera constantemente o suficiente para todos, mas não gera o excesso necessário para nutrir o acúmulo, a ganância e o desperdício.
Ao contrário da ganância econômica, nosso planeta Terra não cresce cada vez mais. Ele pode ficar cada vez melhor, mas não maior. Ele tem sua ordem, seus limites, seu ritmo e seu tempo.
A economia vigente nos diz para competir e que somente crescendo mais que o concorrente teremos uma performance adequada. A regra na Cultura Ocidental é a da medida do sucesso por mais sucesso financeiro. Vendemos nossas vidas para atingir objetivos que nunca serão preenchidos e que trazem consigo uma clara sensação de vazio, pois sempre serão criadas mais metas a alcançar. Assim a economia nos conduz a algo que jamais será alcançado, norteando-nos pela filosofia vazia de crescer por crescer.
Vila no Vietnã, país que sofre com os impactos ambientais do consumo. Fonte: Unsplash.
Para ser saudável a competição deve ter seus limites, não pode aniquilar pessoas e vidas. A cooperação é a única forma de ação onde todos ganham e crescem. Habitamos um planeta juntamente a bilhões de outras espécies e de acordo com esta harmônica inteligência, para continuarmos nos desenvolvendo como um todo, devemos cooperar usando somente o que precisamos, sem desperdício algum.
Devemos polinizar, energizar, criar abrigo e proteção para os que não possuem, fortalecendo parcerias saudáveis e cuidados para com o nosso ambiente.
Podemos dizer que a Terra é como um banco, onde atualmente estamos apenas sacando sem investir nesta “conta bancária”, prática que está nos levando a uma falência eminente. Temos que mudar urgentemente nossa conduta do “querer mais e mais rápido”, do “não reparar”, do “não cuidar”, do “consumir somente por consumir” e de que tudo tenha que ser barato, imediatista e de que precisamos sempre de mais e mais.
Exemplo de criação de peças em papel de modo ecologicamente correto pelo Ateliê Nara Guichon.
Nossa atitude de consumo irresponsável de total desrespeito aos recursos naturais nos trouxe ao colapso que vivemos hoje: florestas derrubadas para suprir uma economia, rios poluídos por indústrias que precisam estar em todos os cantos do globo, solo destruído por práticas agrícolas desrespeitosas e muitos outros problemas. Esta atitude matou infinitas culturas locais e muitos, e ainda desconhecidos, recursos naturais.
Constantemente agimos como se estivéssemos em uma guerra, e, de fato, estabelecemos uma guerra contra a natureza, poluindo, devastando, discriminando, matando sem causa, sempre comandados pela falsa ideia de que crescer infinitamente é o que importa.
As leis estabelecidas pelos homens devem espelhar-se nas leis criadas pela natureza. A escolha é nossa e se não a fizermos, sabemos claramente aonde essas atitudes nos levarão.
Fazer as pazes com a natureza é emergencial e certamente a única forma de mantermos a vida no planeta azul.
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