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Foto do escritorNara Guichon

Fast Fashion: o impacto da moda no meio ambiente




Quando falamos em ações que geram impacto negativo no meio ambiente, não estamos falando apenas de problemas tradicionais como poluição automotiva, lixo nos mares ou usinas de carvão.


Alguns hábitos de consumo pessoal, como as roupas e acessórios que usamos, podem contribuir para uma acelerada degradação, tanto do meio ambiente quanto da vida humana.

O maior desses problemas é a Fast Fashion, e é sobre isso que falaremos hoje.


O que é Fast Fashion?


O termo Fast Fashion se refere a um modelo de criação, distribuição e venda de peças de vestuário baseado no consumo rápido e ecologicamente incorreto. Este modelo de vendas é pensado para suprir rapidamente uma demanda por roupas e acessórios dentro de uma constante troca de coleções, focando em baixo preço e, consequentemente, baixa qualidade.


Um dos segredos da Fast Fashion é a falsa sensação de exclusividade. Embora sejam criadas em grande escala, as peças são divididas globalmente em lotes distintos, que diferem de loja a loja, criando uma equivocada ideia de originalidade.


O resultado é o que cliente é levado sempre a comprar mais e mais, seja pela baixa qualidade das peças ou pela intensa campanha de marketing que promove sempre novos modelos e estilos.


A maioria das pessoas não está ciente da gravidade deste modelo de consumo. Segundo a revista Forbes, a indústria de vestuário é a segunda mais poluente do mundo, perdendo apenas para a produção de petróleo, emitindo cerca de 10% de todo o carbono mundial.


Eis outros dados que chamam a atenção:


  1. Nos Estados Unidos, cada cidadão joga fora em média 32 quilos de roupas por ano.

  2. São gastos 70 milhões de barris de petróleo por ano para produzir a fibra de poliéster, a mais utilizada na indústria de vestuário. Além do alto impacto ambiental de produção o poliéster demora cerca de 200 anos para se decompor.

  3. Uma peça de Fast Fashion dura em média apenas 5 lavagens e não mais que 35 dias.

  4. Peças de fibras sintéticas baratas emitem na natureza o composto N2O, ou óxido nitroso, 300% mais venenoso que o CO2, dióxido de carbono.

  5. As partículas de microfibra sintética têm se criado um novo tipo de contaminação: o microplástico. Estima-se que essas partículas estejam inseridas em diversos biomas, especialmente nos oceanos, e que invadam progressivamente o ciclo alimentar de diferentes espécies, atingindo o homem.

  6. Uma peça de roupa de Fast Fashion produz cerca de 400% mais carbono que uma peça de qualidade feita para durar um ano ou mais.

  7. Alguns tecidos que combinam algodão e outras fibras sintéticas, dada a complexidade de seus compostos, simplesmente não podem ser reciclados.

  8. O cultivo de algodão é um dos maiores consumidores de pesticidas no mundo, utilizando cerca de 24% dos inseticidas e 11% de todos os pesticidas do planeta, gerando contaminação de solo e água em diferentes países.

  9. Além do alto impacto ambiental, a produção de peças de Fast Fashion colabora em diversos países com o trabalho infantil e escravo, impactando na vida de milhões de pessoas.

Dados: Forbes e WWF France.

Degradação ambiental. Foto: Dustan Woodhouse on Unsplash

Slow Fashion


Na contramão do consumo rápido e a qualquer preço, vemos já há alguns anos o fortalecimento da Slow Fashion, que pode ser traduzida como moda com consciência. Nesta maneira de consumir, prioriza-se a qualidade em detrimento a quantidade, bem como bem-estar dos trabalhadores, remuneração justa dentre outros.


Esta prática está atenta a todos os processos de produção, utilizando matérias primas renováveis e de fácil degradação, como algodão, lã, rami, linho, hemp (fibra de Cannabis Sativa), além de muitas outras fibras de origem vegetal que vêm sendo pesquisadas e lançadas no mercado recentemente. Alguns exemplos são: tecidos feitos com fibra de abacaxi, fibras de bambu, de bagaço de laranjas etc.

Este modelo de produção qualifica e remunera corretamente os colaboradores ao mesmo tempo que estimula consumidores a pesquisar onde e como suas roupas foram feitas, fomentando o consumo local, fortalecendo pequenos empresários, designers, artesãos e artistas locais.


Isso colabora também na economia local e na contenção da poluição, uma vez que quanto mais localmente consumirmos, menos transporte será necessário para satisfazer nossas necessidades.


No Brasil, além do Atelier Nara Guichon, marcas como Justa Trama, Natural Fashion e Flávia Aranha possuem modelos de criação totalmente sustentáveis.

Exemplo de reaproveitamento das fibras sintéticas de redes de pesca. Projeto Águas Limpas, Atelier Nara Guichon.

Este são exemplos de marcas que desenvolvem iniciativas pensadas para a criação de peças não apenas sustentáveis, mas bonitas e funcionais.

O caminho para um cenário de moda mais sustentável é longo e depende ainda de uma mudança radical, não apenas no modo de criar novas roupas, mas na forma como os consumidores lidam com o desejo de compra.


O que faz uma marca ser realmente Slow Fashion?


É preciso ter cuidado para, na hora de adquirir uma peça, estar realmente incentivando um verdadeiro projeto de criação consciente e não apenas mais um produto enlatado e rotulado como “moda verde”, ou “Slow Fashion”. Para atender todos os requisitos de um projeto sustentável no setor de moda, a empresa ou criador deve cumprir com os seguintes itens:


Transparência: ao contrário da Fast Fashion, que oculta as etapas de produção, tentando minimizar os impactos ambientais, a Slow Fashion possui um transparente processo de produção, criação e venda de seus trabalhos. O consumidor pode conhecer mais sobre cada etapa de produção.

Valorização do local: se a Fast Fashion é produzida globalmente, sem valorizar e incentivar os produtores locais, a Slow Fashion atua em sentido contrário. A prática preza pela diversidade, estimulando a confiança entre produtores e consumidores e desenvolvendo consciência socioambiental.


Preços reais e justos: não espere pagar por uma peça durável e ecologicamente correta o mesmo que para uma peça de Fast Fashion. A Slow Fashion costuma ser mais cara, mas isso na verdade representa uma dupla economia, pois você não precisará comprar outra peça logo em seguida e ainda irá economizar recursos naturais indispensáveis para a vida humana.


Produção em pequena escala: outra questão a ser observada é que com preços justos a produção pode ser mantida em baixa escala, garantindo que todos os criadores e produtores obtenham o seu sustento e assegurando a unicidade de capa peça.

Valorização e utilização dos recursos locais: uma das principais características da Slow Fashion é a valorização de tudo o que está disponível localmente. Plantas, fibras, texturas, elementos minerais ou mesmo técnicas tradicionais de uma determinada região. Tudo deve ser utilizado da melhor forma possível, estimulando a criação de uma sociedade local forte e dinâmica.


Produtos com uma história única: cada peça é criada localmente e de acordo com as boas práticas sustentáveis, possuindo uma série de características inimitáveis como textura, cor, cheiro e padronagem, contando em sua própria composição a história de cada elemento envolvido no processo de criação.


Um novo conceito de beleza: a moda tradicional dita, a todo instante, o que é belo e o que não é. Estabelece padrões, obrigando os consumidores a trocarem constantemente de opinião sobre o que seja ou não tendência. A Slow Fashion promove justamente o contrário. Ela é baseada num conceito universal de beleza, criado a partir de elementos como harmonia, funcionalidade, segurança, conforto, elegância e durabilidade – valores que literalmente não saem de moda e são reconhecidos por qualquer pessoa, independente de classe econômica, social ou meio cultural.


Resumindo


Apesar de vivermos num mundo majoritariamente consumista, vemos novas formas me mentalidade criativa surgindo dentro de um horizonte de possibilidades ecologicamente corretas.


Apesar de sua nocividade, a Fast Fashion encontrou seu contraponto nas práticas de Slow Fashion – um modo mais consciente e justo de produzir moda.

E você, o que acha de consumir produtos que além de duráveis colaboram para um mundo melhor? Deixe sua opinião nos comentários.

 

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