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Conheça mais sobre as fibras naturais: lã

Atualizado: 26 de out. de 2021




Diante do grande impacto ambiental criado pela industrial têxtil, novas alternativas de consumo de fibras e tecidos se mostram necessárias para restabelecer o equilíbrio entre necessidade e recursos naturais.


Desta forma as fibras naturais, como a lã, desenvolvidas de maneira sustentável, se mostram como uma alternativa não apenas no que se refere a criação artesanal, mas também para diversas empresas dispostas a investir em soluções ecologicamente corretas.

Vale lembrar que o universo das fibras naturais é complexo e repleto de possibilidades.


Aqui nos proporemos a explicar mais sobre as principais fibras, suas características, trajetória e como elas podem colaborar para um consumo consciente, priorizando qualidade em detrimento a quantidade.


Uma breve história da lã


Homem e ovelhas têm caminhado juntos desde as primeiras páginas da história da humanidade.


Através de esculturas primitivas e pinturas rupestres é possível perceber que o homem já havia descoberto que o velo da ovelha era mais macio, quente e confortável do que as peles de outros animais selvagens caçados e usados para sua sobrevivência. Vestígios arqueológicos apontam a utilização da lã em todo o antigo Oriente Médio, especialmente na Anatólia e na Babilônia. Os registros mais antigos datam de 6000 a.C.


Antes disso estima-se que as primeiras tribos humanas da Ásia Menor foram as responsáveis pela domesticação das ovelhas selvagens há pelo menos 10 mil anos. Neste primeiro momento as ovelhas eram usadas como fonte de alimento, tanto para carne quando para leite.

Detalhe da textura da lã. Fonte: iwto.org

Durante a expansão do Império Romano nas ilhas Britânicas, a lã foi artigo de suma importância. Ao conhecerem as vantagens e versatilidade do tecido produzido pelos artesãos celtas, os romanos levaram para Roma a novidade, que logo caiu no gosto dos nobres. A lã então se tornou um dos artefatos mais populares durante o maior império da história.


A lã também já foi usada até como arma política em tempos de guerra. Durante a Guerra dos Cem Anos, disputa entre França e Inglaterra, a lã teve valor decisivo. Em 1336, como forma de represália à França, o rei Eduardo III proibiu as exportações de lã da Inglaterra para a região de Flandres. Sem um de seus artefatos mais importantes, muitos franceses e flamencos cederam ao poder inglês.


Boa parte da influência da Inglaterra, desde o final da Idade Média até o Renascimento, se deveu ao seu domínio na produção da lã, sendo o país responsável pelos maiores rebanhos e fios de melhor qualidade durante séculos.


Entre 1509 e 1547 ocorreu o ápice do chamado “império da lã”. O rei Henrique VIII foi o responsável pelo fim dos rebanhos clandestinos, medida que gerou um êxodo de camponeses para a América. Podemos dizer assim que a lã foi um dos motores que moveu parte da criação dos Estados Unidos da América.


Durante as grandes navegações a lã continuou a ter grande destaque e na colonização das Américas, lá estava o colono acompanhado de sua fonte ambulante de sustento uma vez que a ovelha lhe provia alimento e abrigo.


Em 1665 o rei George III da Inglaterra tentou proibir a produção de lã na colônia americana, numa tentativa frustrada de manter a hegemonia da lã inglesa, mas a essa altura a fibra já era extremamente popular em todo o Novo Mundo. Foi na América também que a lã europeia travou contato com as fibras e técnicas dos povos nativos americanos, assumindo novas formas, texturas e cores.

Fio natural de lã sustentável. Fonte: Owe Sheeps.

Uma fibra versátil


Ao contrário do que se pensa, a lã não é ideal para ser usada apenas no inverno. A fibra natural pode ser usada na criação de tecidos que funcionam como isolante térmico, mantendo a temperatura do corpo em até 8 graus mais baixa quando comparada a tecidos sintéticos.


Cientificamente a lã é extraída apenas das ovelhas. Outros animais como lhama, alpaca, vicunha, cabras e coelhos fornecem pelos, e não lã propriamente dita.

A lã passou a ter vantagem sobre outras fibras naturais em diversos povos por sua versatilidade e excelente impermeabilidade em climas úmidos. Ou seja, ela aquece no inverno, protege no verão e em dias úmidos mantém o corpo seco.

Ilustração do século XIX com os diversos tipos de ovelhas inglesas. Fonte: Pinterest.

Criador e criatura


Um fato curioso é que, no caso das ovelhas, temos um clássico exemplo da influência do homem sobre o meio animal. As ovelhas primitivas, domesticadas pelo homem há pelo menos 10 mil anos, não possuíam tantos pelos como as atuais.


Podemos dizer que a lã é um produto criado diretamente pela influência humana sobre a natureza. Através de um processo de adaptação genética, as ovelhas que tinham mais pelos eram mais bem cuidadas, portanto não eram abatidas em busca de carne e gordura. Esse processo, repetido ao longo de milhares de anos, orientou a evolução das ovelhas de um modo geral, criando uma espécie totalmente nova. É o que chamamos de influência antropocêntrica.


O mesmo aconteceu em relação ao homem. Com a facilidade da proteção dos tecidos como a lã o homem primitivo pode experimentar um ganho evolucionário sem precedentes. Com a lã era possível suportar melhor o frio, se proteger contra insetos e animais peçonhentos e ainda poupar a pele do desgaste do calor.


O homem ganhou ainda algo que chamamos hoje de conforto e bem-estar. A lã proporcionava às famílias textura ideal para descansar o corpo e ainda podia ser usada como adorno e nas representações religiosas. Toda uma nova sequência de comportamentos, rituais, emoções e criações nasceram da relação do homem com as fibras naturais, especialmente a lã.


A relação do homem com a lã é um exemplo claro de simbiose positiva onde duas espécies cooperam para a sobrevivência mútua.

Exemplo de fazenda familiar de ovelhas. Fonte: Bennet Family.

Lã e sustentabilidade


A lã desponta como tecido com grande potencial de uso para a produção de peças duráveis e versáteis. Todo o processo de produção, desde a criação das ovelhas, passando pela tosquia, carda, tingimento e produção final do fio ou tecido pode ser feito sem uso de agrotóxicos, corantes, conservantes ou de aditivos químicos.


Observa-se mundialmente um crescimento por fibras orgânicas. Atualmente a lã assim produzida possui um mercado consumidor garantido, especialmente na Europa e em outros continentes.


A lã pode ser considerada uma das fibras naturais mais sustentáveis, pois consome muito menos recursos naturais em sua produção, oferecendo a vantagem de ser resistente e durável, além de se degradar facilmente, não deixando rastros ambientais quando compostada.


Esta fibra pode ser usada não apenas no setor de vestuário, mas também para decoração. A versatilidade da lã permite seu uso ainda em isolamentos térmicos ,acústicos e também na indústria da medicina.

A criação de ovinos impacta positivamente na economia local, gerando recursos para as famílias donas de pequenos ou grandes rebanhos. Adquirindo peças de lã você estará ativando toda uma cadeia produtiva que respeita o meio ambiente dentro de um sistema de produção mais equilibrado e justo.


Vale sempre lembrar que as peças artesanais em lã contam uma história local única e geram recursos para quem as produz. Hoje em dia é de suma importância apoiar artesãos, artistas e designers colaboram ativamente com a economia circular.


Assim a lã revela em sua história, versatilidade e características uma rica trajetória e uma grande influência nas questões ambientais do nosso tempo.

 





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