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ConheƧa mais sobre as fibras naturais: linho

  • Foto do escritor: Nara Guichon
    Nara Guichon
  • 10 de abr. de 2019
  • 5 min de leitura

Atualizado: 26 de out. de 2021



O linho, planta cientificamente conhecida como Linum Usitatissimum, Ć© uma fibra extraĆ­da do talo da espĆ©cie botĆ¢nica de mesmo nome.


Na atualidade o linho Ć© produzido em maiores volumes na Europa, em paĆ­ses como PolĆ“nia, BĆ©lgica, RomĆŖnia, Portugal e PaĆ­ses Baixos. No Brasil sua produĆ§Ć£o ainda Ć© pequena, mas existe um grande potencial de cultivo da planta, especialmente nas regiƵes de clima mais temperado, como no Sul do paĆ­s.


HĆ” pelo menos 8 mil anos o homem faz uso desta resistente e versĆ”til fibra. Os registros mais antigos provam o uso do linho na antiga MesopotĆ¢mia e por todo o Oriente MĆ©dio desde os idos de 7 mil antes de Cristo.


Esta fibra tornou-se cĆ©lebre no Egito, onde passou a ser cultivada em grande escala para suprir a necessidade de luxo dos faraĆ³s. Os egĆ­pcios utilizavam-no para diversas funƧƵes: velas de barco, tendas, cerimĆ“nias religiosas e especialmente nas bandagens para mumificaĆ§Ć£o. Considerado material nobre, ele foi usado na maioria das mĆŗmias egĆ­pcias e envolveu reis e rainhas em seus sarcĆ³fagos.

Linho colhido antes do processamento. Fonte: Heddels.

O Novo Testamento cita a fibra em diversos momentos, sendo muito conhecida a passagem onde afirma-se que a tĆŗnica de Jesus era tecida em linho sem costuras. Um dos sĆ­mbolos da fĆ© CatĆ³lica, o Santo SudĆ”rio, Ć© uma peƧa de linho, na qual acredita-se que esteve envolto o corpo de Jesus Cristo.


Na Europa, este foi o produto que impulsionou a conquista de diversos territĆ³rios e teve papel decisivo na expansĆ£o dos povos do Norte da Ɓfrica em diversos paĆ­ses. Na regiĆ£o onde hoje encontra-se Portugal foram descobertos vestĆ­gios do cultivo e manufatura deste tecido datados de 2500 antes de Cristo.


Como Ć© feito o linho?


No cultivo orgĆ¢nico o linho Ć© colhido manualmente, sendo arrancado desde a raiz. Desta forma Ć© possĆ­vel aproveitar a planta em todo o comprimento.


Depois de apanhado o mesmo Ć© ripado, processo em que sĆ£o separadas as sementes. ApĆ³s este processo o vegetal passa pelo curtimento e maceraĆ§Ć£o. Nesta etapa a cola natural que une as fibras da planta precisa ser retirada. Contudo, este nĆ£o pode ser um processo muito intrusivo, caso contrĆ”rio as fibras sĆ£o danificadas e o linho perde sua qualidade.

PedaƧo de linho encontrado na tumba do faraĆ³ TutancĆ¢mon, datado de cerca de 1327 antes de Cristo. Fonte: Museu Metropolitano de Arte de Nova York.

HĆ” diversos tipos de maceraĆ§Ć£o:


MaceraĆ§Ć£o por orvalho: os ramos de linho sĆ£o dispostos artesanalmente sobre um campo para que o orvalho da noite (ou a chuva fina em Ć©pocas especificas) retire naturalmente a cola das fibras. Este processo Ć© talvez um dos mais antigos modos do homem transformar uma planta em fibra para seu benefĆ­cio e Ć© totalmente sustentĆ”vel.


MaceraĆ§Ć£o com Ć”gua fria: neste modo os feixes de linho sĆ£o postos em Ć”gua corrente lenta para que, atravĆ©s da aĆ§Ć£o natural, suas fibras amoleƧam e se tornem mais fĆ”ceis de manusear. Este Ć© um processo lento e natural que pode durar atĆ© vinte dias. Era feito ancestralmente nas margens do rio Nilo, no Egito.


MaceraĆ§Ć£o com Ć”gua quente: este Ć© um tipo de maceraĆ§Ć£o mais intrusiva e usada em modo industrial. Com o auxĆ­lio de tanques com Ć”gua aquecida os filamentos sĆ£o mantidos em temperaturas controladas para que as bactĆ©rias faƧam o processo acelerado de maceraĆ§Ć£o. Dura ao todo cerca de quatro dias.


Os mĆ©todos de maceraĆ§Ć£o que utilizam compostos quĆ­micos nĆ£o sĆ£o bem vistos pelos produtores e negociantes, por comprometer a qualidade da fibra e, por consequĆŖncia, produzirem alto impacto ambiental.


ApĆ³s a maceraĆ§Ć£o o linho deve ser seco. Este Ć© um processo igualmente delicado, pois caso nĆ£o seque por completo o linho poderĆ” apodrecer. Se secar demais perderĆ” sua flexibilidade e fiabilidade. O processo mais recomendado Ć© a secagem ao ar livre, garantindo que a fibra mantenha suas qualidades naturais e menor gasto com energia elĆ©trica utilizada em secadores industriais.


No processo artesanal, depois de seco, a fibra passa pelo processo de sedagem. Nesta etapa suas fibras sĆ£o selecionadas pelo artesĆ£o, que desmancha os fios com a ajuda de agulhas, separando as fibras longas das curtas. As fibras longas sĆ£o o linho propriamente dito, e que ainda passarĆ” por diversos processos, como fiaĆ§Ć£o (transformaĆ§Ć£o da fibra em fios) e o tear (a criaĆ§Ć£o do tecido).

ArtesĆ£s portuguesas e o trabalho ancestral de manufatura do linho. Fonte: Turismo em Portugal.

Uma fibra versƔtil e sustentƔvel


Se cultivado da maneira correta o linho Ć© uma fibra 100% sustentĆ”vel, pois nada de sua composiĆ§Ć£o vira resĆ­duo no meio ambiente. Seu plantio demanda baixa irrigaĆ§Ć£o para ser cultivado e uma vez colhido, suas seus filamentos necessitam por muito pouca ou nenhuma intervenĆ§Ć£o quĆ­mica.


Tudo no linho Ć© aproveitado, de suas folhas, cascas e flores extrai-se um Ć³leo natural que serve como complemento alimentar, aglutinante, corante e tintura natural. Sua semente (produzida em maior quantidade por um tipo menos fibroso) Ć© muito utilizada por pessoas que buscam alimentaĆ§Ć£o saudĆ”vel e Ć© conhecida como um poderoso antioxidante. Do caule e raiz extraem-se as fibras que famosas por serem usadas para a composiĆ§Ć£o de novos tecidos e que tambĆ©m Ć© utilizada como material cirĆŗrgico para suturas.


O linho Ć© tambĆ©m um tecido muito resistente e polivalente, podendo ser usado em diversas peƧas como roupas, acessĆ³rios, revestimentos, colchas, bolsas, artigos de cama, mesa e banho e peƧas de design. A fibra possui Ć³tima absorĆ§Ć£o e retenĆ§Ć£o de pigmentos, propiciando uma gama infinita de tramas e alta versatilidade, tanto para vestuĆ”rio quanto para a decoraĆ§Ć£o.


Apesar de reter bem o calor este Ć© um tecido que respira bem, sendo confortĆ”vel no toque. Em sua composiĆ§Ć£o natural e artesanal Ć© material ideal para pessoas com alergias a fibras sintĆ©ticas.

A grande vantagem do uso do linho Ć© sua caracterĆ­stica sustentĆ”vel. Quando feito do modo artesanal ele Ć© parte de um complexo sistema de plantio, criaĆ§Ć£o e revenda, que sustenta diversas famĆ­lias que cultivam. As peƧas criadas com esta fibra sĆ£o Ćŗnicas. Combinam sofisticaĆ§Ć£o, qualidade e respeito ambiental, alĆ©m de preservar uma cultura milenar.

Linho e meio ambiente


O linho teve e tem destaque nĆ£o sĆ³ na histĆ³ria da humanidade, como tambĆ©m na produĆ§Ć£o e consumo de uma moda mais sustentĆ”vel.

Campos de linho da Normandia. Fonte: The Organised Gardener.

Trata-se de um tipo de tecido que com o tempo de uso vai ganhando maciez, mantendo suas qualidades e conforto. Desta forma trata-se de um produto natural que nunca perderƔ espaƧo no mercado, sendo sempre preferido por pessoas que optam por durabilidade, qualidade e atemporalidade.


O linho pode ser cultivado sem agrotĆ³xicos, principalmente em terras onde seu cultivo jĆ” vem de longa data. Ele pode ser plantado ainda em terrenos menos propĆ­cios ao cultivo de alimentos, que requerem solos mais ricos, o que faz desta planta uma alternativa ecologicamente correta de produĆ§Ć£o agrĆ­cola.

Muitos classificam erroneamente esta fibra como algo de custo elevado, mas isto nĆ£o Ć© verdade. Considerando que um metro de algodĆ£o pode custar 1/3 do valor de um metro de linho, temos que levar em conta que o linho possui uma resistĆŖncia e durabilidade no mĆ­nimo 27 vezes maior que a do algodĆ£o.

Outro fato importante sobre a relaĆ§Ć£o do linho com o meio ambiente Ć© que ele pode ser considerado um dos tecidos mais sustentĆ”veis por nĆ£o necessitar de aditivos quĆ­micos em seu plantio. Desta forma sua produĆ§Ć£o possui menor impacto ambiental e garante a preservaĆ§Ć£o dos recursos naturais.

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