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Como iniciar um negócio de artesanato sustentável



Hoje vamos abordar a questão de como abrir um negócio de peças artesanais, um tema cada vez mais em destaque.


Posso dizer que sou uma artesã espontânea, uma vez que não planejei seguir esse ofício. Tudo começou a acontecer quando aprendi a arte do tricô. Mas para muitos artesãos e artesãs, iniciar essa jornada pode ser um pouco mais complicado. Não sabemos por onde começar, nem quais práticas seguir.


Desde já adianto que viver do trabalho como artesão é sim totalmente possível.


Obviamente, não é tarefa fácil, ainda mais numa sociedade viciada em consumo rápido e descartável. Mas a boa notícia é que mais e mais pessoas estão mudando a forma de pensar e consumir, o que abre espaço para novos negócios artesanais.


A criação artesanal vem para preencher uma necessidade genuína por exclusividade, qualidade, valorização cultural e histórica, durabilidade e respeito aos valores éticos e ambientais. Não estamos falando apenas em rotular o seu trabalho como “green”, mas em adotar, desde a concepção de suas peças até a venda ao cliente, uma série de ações de baixo impacto ambiental. Tudo isso sem perder a originalidade.




Os passos para iniciar sua jornada como artesão/artesã sustentável


Encontre o seu caminho


O universo do artesanato é amplo e cheio de possibilidades. Existem artesãos e artesãs incrivelmente versáteis, que atuam em diferentes áreas, mas tais habilidades são fruto de anos de dedicação e estudo. Para quem está começando, o ideal é encontrar uma área de interesse, se consolidar e só depois ampliar seu leque de técnicas.


No meu exemplo, me dediquei primordialmente ao universo têxtil, que não é por si só pouca coisa. Ao longo de minha carreira, agreguei diversas técnicas têxteis ao meu portfólio: tricô, tecelagem, crochê, bordado, tingimento natural, fiação e criação de fios, sem falar no Ecoprint (ou impressão botânica), o reuso de redes de pesca etc.


Utilizo essa variedade de abordagens e técnicas para produzir moda, acessórios femininos, peças de decoração e outros tantos produtos. Tudo isso com qualidade estética e transparência, valores que sempre foram a bússola norteadora para minhas decisões e criações.


O importante é que você encontre um tema que ama, que fale direto ao seu coração e que desperte sua infinita curiosidade. Paixão e paciência são fundamentais. Essa nobre profissão de artesão/artesã dará a quem persistir muito mais do que um trabalho formal, mas lhe proporcionará viver de modo autônomo.

Aprimore seus conhecimentos


Têxtil, cerâmica, reuso, modelagem ou pintura. Não importa a sua área. Artesãos devem ser pessoas curiosas, teimosas, que prezem pela qualidade e transparência, além de arrojadas, em busca de novos conhecimentos e em constante experimentação.


Como bem sabemos, o saber artesanal não é ensinado em nenhuma faculdade, trata-se de uma combinação de intuição, observação atenta do mundo ao redor e capacidade de trocar ideias com outros profissionais e entusiastas.


Para aprimorar seus conhecimentos, busque cursos e livros na área. Com a ajuda da internet, ficou mais fácil descobrir novas técnicas e formatos cada vez mais criativos.

Reserve parte do seu tempo para pesquisas, leituras e compartilhamento de informações. Participe de grupos online, listas de e-mails ou ainda acompanhe sites e blogs sobre o assunto que lhe mais interessa.


Coloque a mão na massa


Todo artesão ou artesã precisa praticar sua arte de maneira sistemática e sem medo de errar. Você só saberá se sua ideia é realmente boa se a colocar em prática diariamente.

Afaste o receio de errar e aprenda com os modelos e ideias que não derem certo. Aliás, essa é uma filosofia praticada no Ecoprint.


A impressão botânica não é uma ciência totalmente exata, deixando sempre alguma margem para o inesperado. E essa é a magia do trabalho artesanal. Não existe certo ou errado. Cada um, após praticar, acertar, errar, molda seu estilo pessoal. É isso que fará o seu produto ser diferente, único. Imprimir sua marca registrada é o que faz a diferença quando falamos de negócios artesanais.

Tenha um código ético pessoal


O artesanato difere do comércio industrial por sua relação ética entre as pessoas e entre artesãos e o meio ambiente. Uma peça artesanal que não respeite a vida ou que se mostre poluente ou antiética em algum grau não cumpre com a função primordial do artesanato.

O artesão que deseja se profissionalizar precisa, antes de tudo, de criar um código ético de boas práticas.


Não existe uma fórmula única, cada um é dono de suas decisões, mas alguns fatores são essenciais:


· Respeito ao ser humano.

· Respeito à comunidade.

· Estimular o comércio local.

· Valorizar o pequeno produtor de insumos.

· Respeito com o planeta.

· Preferência por insumos naturais ou de baixo impacto ambiental.

· Respeito à vida animal.

· Preferência por insumos livres de práticas cruéis contra animais.




Para criar um negócio artesanal você precisa trabalhar com valores


Depois de entender mais sobre o artesanato e aprimorar suas habilidades, é hora de pensar em como suas peças poderão chegar aos clientes.

É fundamental estabelecer que tipo de comprador o seu produto atrairá. Vale saber que o artesanato ainda enfrenta muitas barreiras culturais criadas pelo capitalismo industrial e todo planejamento para a abertura de um novo comércio nessa área precisa se preparar contra isso.


Muitas pessoas não compram produtos artesanais porque eles simplesmente não aparecem nas propagandas da TV ou estão massivamente na mídia. Em outras palavras: muitos não compram porque não conhecem.


É trabalho do artesão divulgar o seu produto de maneira responsável. O artesão é também um educador.


Um bom exemplo são as esponjas, esfregões e sacos reutilizáveis que crio a partir de redes de pesca. Ainda hoje recebo mensagens de compradores que se admiram com a qualidade do produto, incrivelmente mais durável que uma bucha ou saco comum. Essas pessoas aprenderam que, muitas vezes, o produto artesanal é muito superior ao industrial – e irão passar essa ideia adiante.


A isso chamamos de criação de valor. Um produto artesanal não possui apenas valor monetário, mas valor de utilidade, de responsabilidade socioeconômica e assim por diante.

Veja alguns valores para trabalhar com seus potenciais clientes:


A imperfeição é parte do artesanato

Não podemos confundir imperfeição com falta de habilidade. Uma peça artesanal dotada de elegância e leveza será sempre única, atemporal e terá características que nenhuma fábrica poderá criar. O que o capitalismo industrial chama de imperfeição, nós, artesãs e artesãos, chamamos de unicidade.



O que é bom custa um pouco mais

Para citar apenas um exemplo, no mundo da moda é comum encontrarmos peças descartáveis que custam muito pouco, enquanto peças criadas em pequenos ateliês têxteis podem custar mais – mas são muito mais duráveis.

O artesanal não foi feito para vender em quantidades industriais e nem deve ser produzido nesse modelo. Nós, artesãos, estamos oferecendo história, ética, cultura etc. Quando fazemos as contas, o artesanal acaba sendo mais econômico, pois não demanda compras recorrentes. Mostre ao seu cliente que a sua criação foi feita para a posteridade.

O artesanal é feito com matéria prima superior


Lembre-se: peças artesanais são feitas para durar. E isso só será possível com a escolha de matéria prima de qualidade.


O maior valor de uma peça feita manualmente é a mão de obra empregada nesse processo. Falamos da criação e dedicação do artesão, portanto, é fundamental usar materiais de primeira qualidade, pois o objetivo final dessas peças é a beleza, mas também a durabilidade. Isso mostrará ao cliente que vale a pena investir um pouco mais de dinheiro.


O artesão deve relatar isso, contar a história da peça e de seus materiais. Isso irá agregar ainda mais valor ao produto.


O artesanal é parte de uma cadeia de eventos

O artesão consciente não pensa apenas no lucro pessoal, mas busca envolver e valorizar toda uma rede local de pessoas que dependem desse trabalho para viver. Mostre ao cliente que, ao comprar uma peça, ele está colaborando para a economia local para a dignidade de quem a produz.


Um negócio de artesanato precisa pensar em logística


De nada adianta criar um trabalho de qualidade se o mesmo não estiver ao alcance dos futuros compradores. A logística é o grande desafio do criador artesanal e deve ser pensada com cuidado ao longo do seu projeto de negócios.


Vamos separar a logística em três modelos: logística de entrega local, ampla e híbrida.


Criação artesanal de entrega local

Se você for um artesão ou artesã focado(a) no consumo local, com produção reduzida ou que trabalhe apenas em certas datas do ano, talvez seja melhor estreitar seus laços com os clientes de sua região, invés de tentar distribuir seu produto nacionalmente.


Para isso, pense em um sistema de entregas local ou num modelo de agendamento para retirada das peças no local.


Tudo isso respeitando as regras e boas práticas de distanciamento social em tempos de pandemia.


Principais vantagens:


· Maior contato com o cliente, que vai até o seu ateliê ou loja.

· Estímulo da economia local (entregadores, embalagens).

· Menor gasto com envio.


A principal desvantagem é o menor raio de atuação de vendas, mas isso dependerá do seu modelo de negócios.


Criação artesanal de entrega ampla

Se sua produção for maior e com o intuito de atingir pessoas de outras regiões, você terá um pouco mais de trabalho. Será preciso pensar em formas de envio, embalagens e tarifas de postagem.


De acordo com o tipo de peça (objetos delicados como vidro, pinturas, peças grandes), o frete poderá se tornar um fator de encarecimento final ao cliente.


Uma solução eficiente é criar parcerias com lojas em diferentes cidades para a revenda de suas peças. É importante lembrar que a loja onde o seu trabalho será encontrado deve compartilhar dos mesmos valores que você. Para isso é essencial uma conversa sincera com o revendedor.


Não se furte de recusar parcerias que não lhe pareçam alinhadas ao que você acredita.


Principais vantagens:


· Maior área de atuação de vendas.

· Maior possibilidade de parcerias com outros criadores.

· Você poderá criar um portfólio maior de peças (se essa for sua ideia).


Os problemas são as questões de envio e de produção. Para pequenos ateliês, a distribuição ampla pode gerar sobrecarga de criação.


Lembre-se: a criação artesanal não deve ser pensada em quantidade, mas qualidade. Encontre um meio termo entre a demanda e o seu ritmo de trabalho.


Criação artesanal de entrega hibrida

Nesse modelo, o artesão mistura a distribuição local com alguns pontos amplos. Por exemplo: você pode vender na sua cidade e ter dois ou três lojas em grandes centros com peças específicas. É um ótimo modelo para quem deseja compreender o ritmo de vendas sem se sobrecarregar na produção de peças.


Utilizo parte desse modelo com os produtos criados a partir de redes de pesca. Os esfregões e sacos são revendidos nacionalmente pela empresa Positiva e as esponjas menores vendo localmente na região onde habito.


Preços, custos e outras questões


Muitos criadores sentem dificuldade na hora de precificar o seu produto, mas o valor final de uma peça é essencial para a manutenção do seu trabalho.


O preço de uma peça não pode ser tão alto que afaste os clientes, nem tão baixo que não recompense o artesão.


O ponto de equilíbrio entre valorização do trabalho artesanal e acessibilidade das peças junto ao consumidor é a chamada precificação.


Não há uma regra, mas algumas dicas técnicas podem ser úteis. Para tal, listo a seguir as recomendações criadas pelo site do Sebrae de Santa Catarina:


Calcule o custo por peça

Pode não ser um número exato, mas tente definir quanto capital foi investido em cada peça. Mesmo lidando com insumos naturais, temos despesas relacionadas a outras matérias primas.


Saiba seus custos fixos e variáveis

Recomendo a leitura desse artigo sobre custos fixos e variáveis. Ao estabelecer esse valor, você se torna mais livre para precificar o seu produto, sem correr o risco de cometer erros.

Deste modo, você poderá calcular uma estimativa de quantos produtos de cada tipo precisam ser vendidos para pagar os custos do seu negócio.


O valor que sobrar dessa conta é o lucro, o real pagamento monetário por seu trabalho.

Crie uma margem de lucro justa

Um negócio artesanal precisa de uma margem de lucro que permita ao artesão viver com dignidade, valorizando o seu trabalho. Se a sua margem for de 30 ou 40%, eis um bom número. Respeite-a.


Não se esqueça do valor subjetivo

Aqui devemos estabelecer um preço para as qualidades especiais daquela peça. Design único, modelo criativo, sustentável ou que represente uma cultura específica (de um povo, uma região, um país). Não é fácil precificar isso, mas é importante inserir no preço final um adicional pelo tipo de trabalho criado. Isso valoriza a peça e garante o seu ciclo econômico.


Concluindo


Se tornar um artesão ou artesã profissional é um desafio que exige dedicação, respeito e acima de tudo, muita garra.


Os negócios artesanais são celeiros de ideias que cruzam as fronteiras do capitalismo industrial, criando novas formas de consumo mais éticas e conscientes. Sem contar a enorme relevância social, fomentando a economia local e garantindo sustento para diversas famílias.


Transformar sua vocação artesanal em fonte de renda é possível. Com planejamento e confiança, podemos criar negócios transformadores de grande impacto social e com absoluto respeito com o planeta.

 

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