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Foto do escritorNara Guichon

Agrotóxicos: um perigo real para a vida humana e para o planeta



A notícia da liberação de mais 42 agrotóxicos pelo governo brasileiro deixou muita gente perplexa. Enquanto o mundo se esforça em reduzir o consumo de pesticidas e compostos declaradamente prejudiciais aos seres humanos e ao planeta, vemos políticas públicas que insistem em caminhar no sentido oposto.


Atualmente o Brasil permite o uso de cerca de 450 agrotóxicos, muitos deles proibidos na União Europeia, Estados Unidos e Canadá. Isso representa um risco cada vez maior de contaminação da população, que pode sofrer sérios danos físicos e mentais ao consumir alimentos cotidianos, especialmente frutas, legumes e verduras. Ou seja, o que comemos com a intensão de ter uma vida mais saudável, na realidade, está nos matando.


Neste ponto o Brasil tem se tornado um mal exemplo. Somos um dos maiores produtores de alimentos do mundo, um país conhecido por sua diversidade biológica e riqueza gastronômica. Mas a realidade aponta para uma contaminação massiva da população, que enfrentará nesta e nas próximas gerações, uma verdadeira epidemia de graves doenças, além da degradação definitiva de solos e águas.

Aplicação de agrotóxicos num campo de morangos.

Aplicação de agrotóxicos num campo de morangos. Foto: iGui Ecologia.

Agrotóxicos e meio ambiente


Desde a proibição mundial do uso do DDT e seus derivados, diversos cientistas e pesquisadores comprovaram que o preço pago pelo uso dos agrotóxicos não vale a pena.

Utilizados para evitar pragas e potencializar o uso do solo, especialmente em monoculturas, os compostos químicos funcionam como uma faca de dois gumes. Se por um lado produzem alimentos fora de época e em grande quantidade, por outro deixam resíduos ambientais capazes de comprometer a saúde não apenas do homem, mas de toda a cadeia biológica.


Em termos de contaminação de solo, os danos podem ser permanentes. Diversos elementos permanecem na terra por tempo indeterminado. Este efeito silencioso produz territórios contaminantes, que atingem os lençóis freáticos e espalham o material nocivo para rios, ribeirões e lagos.


Pesticidas organoclorados e organofosforados são conhecidos por sua alta capacidade de permanência nos ciclos vitais. O solo contaminado gera plantas que carregam os compostos em suas folhas e frutos. Assim, diversos agentes cancerígenos entram na cadeia alimentar de várias espécies, inclusive os seres humanos. O efeito é sempre devastador.


Por se tratar de um ciclo complexo, os resultados danosos podem ser percebidos apenas depois de muito tempo, o que cria a falsa ideia de que agrotóxicos não são realmente perigosos. A indústria do agronegócio vende a imagem de que o uso dessas substâncias é necessário, quando os países desenvolvidos se orientam justamente em direção a alimentação orgânica e mais responsável.


Estudos também apontaram que o uso de agrotóxicos está dizimando populações inteiras de animais. As abelhas, responsáveis pelo equilíbrio vital através da polinização, são a espécie mais afetada. A cada ano, bilhões de abelhas morrem, interrompendo um ciclo essencial para a perpetuação de várias espécies. Se nada for feito, diversas frutas e produtos como o cacau e o café podem desaparecer, pois são vegetais que dependem diretamente da ação das abelhas para completarem seus ciclos de florescimento.

Os vegetais com maior incidência de agrotóxicos no Brasil

Os vegetais com maior incidência de agrotóxicos no Brasil. Fonte: Viver fora do sistema.

O impacto dos agrotóxicos para a saúde humana


Uma grande questão levantada é que os pesticidas e fertilizantes são necessários para manter a alta produtividade necessária para suprir a demanda por mais alimentos para a população mundial. Essa teoria cai por terra quando compreendemos os danos causados pelos agrotóxicos e como o seu uso cria um falso conceito de abundância.


A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos, EPA, realizou diferentes estudos sobre os danos da alimentação contaminada por agrotóxicos aos seres humanos. O consumo de frutas, verduras e legumes cultivados com pesticidas tóxicos está diretamente ligado a altas taxas de diferentes tipos de câncer, mal de Alzheimer, distúrbios hormonais graves, problemas neurológicos e alterações comportamentais sérias. Há ainda uma direta relação da alimentação contaminada com a perda de cálcio, problemas dentários e danos permanentes ao sistema imunológico.


No caso das gestantes e crianças o impacto é ainda mais grave. Os agrotóxicos são responsáveis por altos números de má formação do feto, abortos e problemas de saúde do bebê. Nas crianças, a exposição a estes compostos químicos pode gerar hiperatividade e distúrbios comportamentais irreversíveis. Diversos estudos revelaram que os agrotóxicos estão presentes até mesmo no leite materno. Uma pesquisa reveladora, apontou que há uma forte relação entre o uso de agrotóxicos por trabalhadores do agronegócio e elevados índices de suicídio.

Pessoas que lidam com essas substâncias diretamente sofrem maior tendência a tirar a própria vida, além de enfrentarem gravíssimos problemas de pele e pulmão.

A cultura do agrotóxico está gerando também um efeito reverso. Os consumidores se encontram diante de apenas duas opções de alimentação: de um lado os alimentos ultra processados, saturados de açúcar, gordura e sal; do outro os alimentos naturais aditivados com agrotóxicos. Essa evidente falta de opção causa o que muitos especialistas chamam de estresse alimentar, onde o indivíduo não se sente feliz ao realizar a mais básica das funções humanas: prover o corpo de nutrientes.


Esta seria a base de diversos problemas emocionais, como bulimia, anorexia, depressão e ansiedade. Problemas potencializados ainda pela falta de informação e pelo tabu que considera os alimentos orgânicos como algo ainda muito inacessível.

Alimentos orgânicos: uma alternativa justa e ética para se livrar dos agrotóxicos

Alimentos orgânicos: uma alternativa justa e ética para se livrar dos agrotóxicos. Fonte: Pexels.

Uma alimentação mais consciente


A ANVISA publicou um estudo que aponta os alimentos com maiores taxas de agrotóxicos do mercado brasileiro. Os números são alarmantes. Um simples pimentão pode ter mais de 91% de compostos químicos acima do permitido para o consumo humano. Outros legumes como cenoura e pepino podem ter até 60% mais agrotóxicos que o permitido.

Esses dados alarmantes nos levam a uma conclusão inevitável: é preciso encontrar uma alternativa urgente para reverter essa triste realidade. Enquanto o debate ainda não é resolvido pelos órgãos competentes, cabe a nós fazer a nossa parte.

A primeira atitude é saber sempre a procedência dos seus alimentos. Frequentar as feiras locais é uma excelente maneira de conhecer melhor os produtores e garantir que produtos de qualidade irão para sua mesa. Além disso, ao consumir alimentos orgânicos, estamos incentivando a economia regional, gerando renda para centenas de famílias de pequenos agricultores.

Feiras locais de produtos orgânicos. Fonte: Gaúcha ZH.

Feiras locais de produtos orgânicos. Fonte: Gaúcha ZH.

O consumo local ainda reduz a necessidade de transporte dos alimentos, o que representa menos gases poluentes na atmosfera.


Um fator de suma importância é o consumo baseado na sazonalidade. Comprar alimentos fora da estação é uma maneira de incentivar, indiretamente, o uso exacerbado de agrotóxicos. Alimentos da estação costumam demandar menor intervenção humana. Quando cultivados organicamente, são fontes confiáveis de nutrientes.


Outra opção para fugir do consumo de alimentos contaminados é a criação de hortas urbanas. A prática faz muito sucesso em países como França, Holanda e Alemanha, onde os principais bairros possuem um espaço comunitário para o cultivo de legumes e frutas. As hortas urbanas geralmente são criadas em espaços ociosos, como terrenos baldios, telhados de prédios, lajes e demais áreas poucos valorizadas. A criação leva em conta a sazonalidade e os moradores colaboram de modo voluntário para a manutenção do projeto.


Além de oferecer alimento de qualidade por um preço acessível (em alguns projetos os moradores pagam apenas uma taxa de manutenção e podem colher semanalmente), as hortas reaproveitam os resíduos orgânicos. Cascas, talos e restos de alimento são compostados e geram adubo natural. No Brasil a ideia ainda é nova, mas em cidades como São Paulo, Belo Horizonte e Rio de Janeiro já existem diversos projetos de sucesso.


É interessante também pensar em criar uma horta pessoal. Muitas pessoas estão preferindo o ritmo de vida no campo, ou em casas com quintais, para poder cultivar seu próprio alimento. Além de saudável, é uma ótima terapia de contato com a natureza. No site Cultivando e no Thiago Orgânico, você encontra algumas dicas para iniciar uma horta caseira.


Resumindo

Os agrotóxicos se tornaram um assunto de grande interesse social. No mundo inteiro, as pessoas estão mais preocupadas com a alimentação e o equilíbrio ambiental. Podemos afirmar que o primeiro passo para abordar essa questão é mudar nossa forma de lidar com os alimentos.


Quando nos tornamos mais seletivos e atentos, passamos a preferir apenas produtos orgânicos, que respeitam os valores da dignidade humana e do planeta. Esta é uma maneira de garantir nossa saúde física e mental e também preservar o meio ambiente para as futuras gerações.

 

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